Notícias

#MaréUnida : Construindo um Mundo Melhor

Hoje convidamos você a conhecer um pouco mais sobre uma das quatro organizações que participam da nova formação do Maré Unida, programa de treinamento da Luta pela Paz com patrocínio da Petrobras!

O projeto Construindo um Mundo Melhor surgiu quando Ramon Duarte, 28 anos, começou a participar de um outro projeto como professor de boxe voluntário. Depois de um tempo, com o desinteresse dos antigos organizadores do projeto, Ramon começou a tocar as rédeas do que hoje é o seu projeto. 

“Comecei a abraçar outras funções, trouxe outros professores para serem voluntários no projeto e a coisa foi tomando outra forma. Em pouco tempo, eu acabei me tornando o representante direto do projeto.  Eu sou aquele cara que está ali, sempre tentando resolver algumas coisas e que hoje comanda uma equipe com 8 pessoas. Hoje temos um professor faixa preta de jiu-jitsu, um faixa marrom que é seu auxiliar, um professor de capoeira do grupo Senzala, um professor de boxe infantil, eu mesmo também que sou formado em boxe por duas federações do Rio de Janeiro e reconhecido pela federação de boxe de praia, duas voluntárias no administrativo e duas voluntárias na área social. Isso, todo mundo voluntário, ninguém recebe nada para estar ali. Eu sempre fui criado em torno dos esportes de luta, na minha criação não tinha espaço para futebol, essas coisas, então dos meus 12 até meus 19, eu vivi em um mundo muito violento, meio roqueiro, meio anarquista, mas isso não vem ao caso, brigava na rua, e a forma que meu pai sempre achou para me disciplinar era fazendo boxe, jiu-jitsu, capoeira…  E foi essa disciplina que eu fui aprendendo com 13, 14 anos que eu vejo os reflexos na minha vida agora. Mas na época, eu treinava, treinava, aí fazia uma besteira, ficava de castigo, tinha que ser corrigido. Eu via que aquilo ali, mesmo naquela época, já abria meus caminhos e horizontes. Claro que nem todo mundo vai seguir nesse caminho, mas é uma oportunidade e tanto para essas crianças. Então, foi assim que eu acabei aprendendo muito sobre artes marciais, e enquanto adolescente fui aprendendo que aquilo ali disciplinava, aquilo ali trazia um caráter, tinha valores para você seguir e tudo mais. Passou-se um tempo, vivi minha vida normal depois disso, me casei, até que surgiram novas oportunidades para mim. Comecei a dar aula num projeto e lá fui fazer tudo aquilo que eu aprendi na prática no meu passado, onde entendi o quanto o esporte é importante para uma ressocialização, para disciplinar crianças e jovens… E foi assim que eu comecei a abraçar a ideia de trabalhar nesse intuito com o esporte.”    

Com novas funções, novas responsabilidades. Foi assim que Ramon acabou encontrando no Maré Unida, a força que precisava para continuar.

“Fomos selecionados para o treinamento do Maré Unida em novembro e eu fui participar da capacitação. Conheci o Maré Unida através de um amigo meu que treinava aqui na Luta pela Paz. Eu também já tinha treinado aqui quando tinha 15, 16 anos, mas por pouco tempo. Esse meu amigo veio me dizendo que tinha aberto esse processo seletivo de organizações e no último dia eu me inscrevi. Alguns dias depois veio uma equipe da Luta pela Paz até o meu projeto e no outro dia já me chamaram para uma entrevista e o meu projeto foi selecionado. Entrei no Maré Unida achando que era apenas um curso para me ensinar a gerir um projeto, mas desde o princípio, quando começaram as aulas, eu vi que era muito mais do que isso.  A forma que eu aprendi, inclusive, como apresentar a minha organização, nossa missão, visão e valores, me ajuda muito em processos seletivos de novos voluntários e voluntárias e na hora de procurar parcerias também. Claro que apesar de sermos todos voluntários, isso não quer dizer que não exista responsabilidade, que não exista controle e uma gerência, né? Eu tenho aprendido muito sobre isso aqui no Maré Unida também. Fazer todas e todos se sentirem parte daquilo é mais importante. E eu digo que o Maré Unida me deu um levante em muita coisa, seja moral, em saber quem eu sou, onde eu quero chegar com o projeto, qual a importância do meu projeto na nossa comunidade. Me deu um ânimo especial em continuar. Eu vejo, hoje em dia, a evolução. Eu consigo implementar lá o que eu aprendo aqui nas aulas. Consigo passar um pouco do que aprendi para os outros professores. Peço para todo professor escolher um tema e durante toda a semana nas aulas, todos os professores vão falando um pouquinho sobre aquele tema escolhido, sempre tendo em mente a nossa missão, nossa visão e os nossos valores.  Nas sextas-feiras, a gente faz uma gincana com as crianças e os jovens para ver o que eles aprenderam sobre aquele tema. Hoje em dia eu falo que meu projeto não tem política, não tem religião, não tem preconceito com nada. 

Hoje em dia, no Construindo um Mundo Melhor a gente tem capoeira, boxe e funcional para os jovens e para os adultos. Todos nossos professores seguem a nossa missão, visão e valores que dizem respeito ao impacto positivo nas crianças e jovens da nossa comunidade. Mais do que formar campeões, queremos mostrar que é possível ter outras inspirações para os nossos alunos e alunas no dia a dia da nossa favela. Eles estão ali treinando e não estão na rua. Hoje já são 26 crianças e 20 adultos, 46 alunos e alunas treinando conosco. Pretendo, até o final do ano, ter pelo menos 67. Nosso projeto acontece de segunda a sexta, quatro horas de aula por dia, porque somos todos voluntários, trabalhamos, estudamos ou as duas coisas, como eu, que estou na faculdade também – além de estar sempre presente nos treinamentos do Maré Unida.

O que eu mais gosto de ver, diariamente, é o impacto que aquela atividade gera na vida delas. Quando eu cheguei para dar aula neste espaço que eu dou aula agora, as crianças eram bem difíceis. Elas chegavam a ameaçar os professores. Me ameaçavam. E isso mudou completamente.  

Sei que vai chegar um momento que vou ter que mais administrar o projeto do que dar aula, não vou estar tão presente no dia a dia para ver essa mudança acontecer na frente dos meus olhos… Tudo isso, apesar de ser o que eu amo fazer e no que eu estou me especializando, fazendo faculdade de Educação Física, mas sei que este é um caminho natural. Tenho minhas metas pessoais também como preparador físico, gosto muito de musculação também. Eu sendo um bom preparador físico, eu sei que isso vai ser bom para o nosso projeto também, posso treinar outros professores, meus atletas e eu espero que nosso sonho vire realidade, que é formalizar o nosso projeto. Além disso, claro, termos o nosso espaço próprio também. Mas sei que a formalização é um passo que eu preciso dar um rumo à conquista deste nosso espaço próprio. Nem que eu tivesse que fazer obra de novo, tudo de novo, acho que esse é meu grande sonho agora: um espaço que a gente possa construir um mundo melhor.  

Com isso, crescer o número de alunos, ver a transformação aos pouquinhos em cada um deles. A gente já vê muitos alunos e alunas que antes não pediam licença, por favor, mudando os seus hábitos diariamente. Coisas que há dois anos não tinha, quando eu comecei nesse trabalho. Nosso sonho em comum, de todos os projetos do Maré Unida, é justamente esse: impactar as crianças e jovens da nossa comunidade e mostrar um outro caminho possível. Um caminho que nós mesmos, fundadores e fundadoras, trilhamos e queremos ver mais e mais jovens trilhando.”    

Você também vai se interessar por…