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Shaolin: a história do educador que reinventou suas aulas após receber o diagnóstico de sua filha

Jeferson Costa, também conhecido como Shaolin, transformou a vivência com sua filha autista em metodologia inclusiva para alunos PCDs, criando um ambiente de cuidado dentro e fora do tatame

Por trás dos treinos, dos chutes e dos alongamentos, há um educador que carrega no peito mais do que uma faixa preta, ele carrega a vivência, o cuidado e a urgência de construir um mundo mais justo para crianças neurodivergentes. Há dois anos, a vida de Jeferson Costa, educador social e esportivo de Jiu-Jitsu da Luta Pela Paz, mudou completamente com o diagnóstico de autismo da filha. Desde então, ele transformou o chão da quadra em território de acolhimento, inclusão e aprendizado mútuo.

“Eu me aprofundei muito depois do diagnóstico da minha filha. Queria entender como apoiar ela, como desenvolver as habilidades físicas e cognitivas dela. E aí isso foi entrando também nas minhas aulas. Comecei a aplicar o que aprendia em casa com os meus alunos”, comentou.

Foi nesse processo que ele criou algo simples, mas revolucionário: cartões personalizados que mapeiam as preferências, dificuldades e gatilhos de cada criança. “O que ativa um gatilho, o que ela gosta, o que ela enfrenta de desafio… Isso me ajuda muito a atender cada aluno de forma mais humana. E também me conforta, porque sinto que tô ajudando minha filha e outras crianças ao mesmo tempo.”

Foi nesse contexto que, com sensibilidade e escuta ativa, ele entendeu que a inclusão de verdade vai além de adaptar exercícios. É sobre criar conexões, fortalecer vínculos e fazer com que todas as crianças – com ou sem deficiência – se sintam parte do coletivo.

Assim nasceu o “ensino colaborativo”, metodologia própria em que os próprios alunos se tornam líderes dentro das aulas, ajudando os colegas a se desenvolverem juntos, sem hierarquias ou distinções. “A gente forma pequenos líderes em cada turma. Eles vão ajudando os outros e, quando a gente vê, já não precisa mais de tanto suporte técnico. Todo mundo cresce junto”, destacou o educador.

E não para por aí, ele segue investindo na própria formação. Já é faixa preta de jiu-jitsu e está prestes a receber também a graduação em luta livre esportiva. Concluiu a faculdade recentemente e acaba de terminar um curso de ABBA (Análise do Comportamento Aplicada), voltado ao acompanhamento individualizado de crianças autistas – um conhecimento que, segundo ele, serve para todas as crianças.

“ABBA não é só para neurodivergente, não. A gente aprende a lidar com traumas, contextos familiares difíceis, situações delicadas… Isso muda tudo. É saber o que dizer, o que não dizer. Escutar. Acolher.”

Hoje, ele segue em constante atualização, buscando novas formas de ensinar e aprender com seus alunos, principalmente aqueles que, como sua filha, enxergam o mundo com outras lógicas e sensibilidades.

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