Roberto Custódio, “cria da Maré”, como se diz nas comunidades cariocas, conheceu a Luta pela Paz aos 14 anos, em 2001, quando ainda se tratava de um pequeno projeto centrado em aulas de boxe para adolescentes. Nem ele nem o fundador Luke Dowdney imaginavam que, 20 anos depois, a LPP se tornaria uma ONG com mais de 150 funcionários espalhados pelo Brasil, desenvolvendo os valores da Organização e compartilhando uma metodologia que alia esportes de luta com aulas de desenvolvimento pessoal como forma de promover as habilidades e competências sociais de jovens que sofrem com desigualdade, violações e negligências.
No início, as instalações eram precárias e a equipe não chegava a dez pessoas. Mesmo assim, os sonhos de se destacar e conquistar vitórias no esporte e na vida foram cultivados por cada aluno e aluna. Após cinco anos de dedicação, superação e muita resiliência, os impactos positivos começaram a acontecer. Em 2006, Roberto e mais três jovens que vinham conquistando espaço em lutas no Rio de Janeiro viajaram de avião pela primeira vez para lutar boxe na Irlanda do Norte, fruto de uma parceria da Luta pela Paz.
No retorno, Roberto recebeu a convocação para servir às Forças Armadas, um antigo desejo que acabou sendo substituído pelo objetivo de se tornar um lutador e seguir uma carreira como atleta de boxe olímpico. O jovem então pediu dispensa do serviço militar obrigatório e seguiu viagem no mesmo dia para um campeonato em São Paulo. Era o começo de uma fase de muitas lutas e vitórias.
Em 2008, após excelentes resultados em competições de nível Estadual, Interestadual e Nacional, Roberto recebeu uma convocação da Confederação Brasileira de Boxe para um período de experiência e avaliações e, em 2009, foi oficialmente convocado para fazer parte do time de atletas da Seleção Brasileira de Boxe. Foi preciso deixar família, amigos e a academia da LPP para morar em São Paulo, base de treinamento da CBBOXE.
Como atleta da Seleção Brasileira de Boxe, que sempre contou com o apoio da Petrobras, Roberto teve a oportunidade de viajar por muitos países, como Chile, República Dominicana, Equador, Venezuela, Panamá, Cuba, Argentina, Porto Rico, Itália, Inglaterra, Irlanda, Canadá, entre outros. Em 2012, participou dos Jogos Olímpicos de Londres como reserva, vivenciando uma experiência marcante na Vila Olímpica junto ao time do Brasil e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
Em 2013 conquistou o título de Campeão das Américas no Chile, em sua categoria de peso, levando o Brasil ao primeiro lugar como equipe do ranking da AIBA (International Boxing Association). Em 2014, conquistou a medalha de Bronze nos X Jogos Sul Americanos no mesmo país. Ainda em 2014, Roberto foi convidado pelas Forças Armadas (Exército Brasilero) como atleta a representar a equipe da CDE-Exército, em competições como os Jogos Mundiais Militares. Em 2016, no Rio de Janeiro, embora não tenha conquistado a vaga para disputar os jogos Rio 2016, teve a honra de ser convidado a participar do revezamento da Tocha Olímpica nas ruas da cidade.
Após o término do contrato com a Seleção Brasileira, em 2017, retornou para o Rio de Janeiro e para a sua instituição de origem, a Luta pela Paz, agora como professor. Roberto colocou toda sua experiência no mundo do esporte de alto rendimento e ainda os aprendizados da graduação em Educação Física iniciada no ano seguinte, a serviço de inspirar e apoiar os sonhos de jovens que começavam sua trajetória na mesma academia da Maré onde tudo começou, agora uma ONG já bem mais estruturada, capaz de atender centenas de crianças, adolescentes e jovens. “Sabendo quão desejado é pelos alunos e alunas do esporte da LPP chegar em uma seleção, passei a ajudar no desempenho deles e delas, para que pudessem se desenvolver e atingir sua melhor performance no esporte e na vida, como verdadeiros campeões e campeãs”, afirma Roberto.
Em 2018 Roberto Custódio dá mais um passo firme para o desenvolvimento de seu potencial como profissional, se inscrevendo no F.A.E (Fundamento da Administração Esportiva) promovido pelo Instituto Olímpico Brasileiro – IOB, programa cujo objetivo era apoiar na transição de carreira de ex atletas que representaram o Brasil em campeonatos como os Jogos Sul Americanos, Jogos Pan Americanos, Mundiais e Olimpíadas. Em seguida, em 2019, assume a Coordenação de Esporte da Luta pela Paz, liderando o pilar de Boxe e Arte Marciais. Desde então vem desempenhando um trabalho de excelência com equipes multidisciplinares e impactando a vida de milhares de alunos e alunas todos os anos.
Roberto Custódio jamais parou de desenvolver seu potencial, assim como a Luta pela Paz busca desenvolver o de cada jovem atendido na academia. Em 2022, concluiu a licenciatura e bacharelado em Educação Física e, recentemente, em 2024, deu início à Pós graduação em gestão de processos e métodos ágeis com enfoque na melhoria das suas habilidades e competências como liderança e gestão de projetos.
“O esporte transformou a minha vida por completo, quando adolescente, jovem, adulto; como pai e como marido. Hoje na Maré, na Nova Holanda, muitos conhecem minha trajetória de superações, e me veem como um jovem que sonhava em ser um lutador do bairro e que se tornou um lutador do Brasil“.
Hoje, Roberto é uma das lideranças da Luta pela Paz. O Complexo da Maré é um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, com cerca de 140 mil habitantes distribuídos em 16 comunidades. A região enfrenta desafios históricos como o acesso precário à educação, saúde e mobilidade.
É nesse contexto de vulnerabilidade que a oferta de esportes para crianças, adolescentes e jovens. Figuras inspiradoras, como Roberto, se transformam em verdadeiras referências. “Projetos sociais como a Luta pela Paz são fundamentais porque mostram para o jovem da favela que ele pode sonhar com mais. O esporte disciplina, conecta, fortalece a autoestima e abre portas. Quando a gente acredita neles, eles passam a acreditar também”, afirma Roberto Custódio.
Ao unir o esporte com a educação e o apoio psicossocial, A Luta pela Paz e os projetos desenvolvidos por ela oferecem não apenas um espaço seguro, mas uma proposta concreta de futuro, para cada vez mais histórias transformadoras, como as de Roberto.