Notícias

Violência armada causa danos à saúde física e mental de moradores da Maré

Diante da violência armada, os trabalhos realizados na Luta pela Paz também são suspensos

Marcha Contra a Violência na Maré. | Foto Douglas Lopes/Redes da Maré

Moradores da Maré já sabem que em dias de operação policial a circulação pelos espaços é arriscada e também não é possível acessar serviços básicos de saúde e educação. O mesmo acontece com a nossa Academia: é necessário interromper as atividades para não colocar em risco a integridade física de alunos, responsáveis e profissionais que trabalham aqui. Mas a saúde mental também é afetada diante da violência armada, que é frequente na Maré.

Para entender melhor como isso se dá, o Centro de Estudo em Segurança e Cidadania (CESeC) desenvolveu a pesquisa Saúde na linha de tiro: impactos da guerra às drogas sobre a saúde no Rio de Janeiro e avaliou a situação de seis localidades do Rio – três que sofrem com a violência armada e três que não vivenciam esse tipo de experiência. Um desses locais foi a Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré e onde está localizada a Luta pela Paz.

A pesquisa aponta que a rotina de medo criada pelo conflito armado e operações policiais nas favelas causam danos a longo prazo tanto na saúde física quanto mental de moradores das favelas. Os moradores mais afetados pela violência têm 42% mais risco de desenvolver algum quadro de hipertensão, em comparação às pessoas menos impactadas.

Dentre os seis espaços pesquisados, casos de adultos com ansiedade, depressão, insônia e hipertensão arterial são maiores nas favelas onde os episódios de violência ocorrem com mais frequência. Das pessoas que moram nas áreas mais afetadas por tiroteios, 29,6% relataram sintomas de depressão em comparação aos 15,7% dos moradores das demais comunidades. 

Com a interrupção das unidades de saúde em dias de trocas de tiro, a saúde é diretamente impactada e isso acarreta também em prejuízo aos cofres públicos. Em 2022, o custo anual do tratamento de pessoas com quadros de depressão e hipertensão variaram entre R$ 69 mil e R$ 95 mil.

Este ano aconteceram, pelo menos, 15 operações policiais na Maré e destas, 11 impactaram diretamente o funcionamento da Academia. Um dia de violência armada gera muitos transtornos aos moradores: escolas precisam ser fechadas, espaços de saúde suspendem os seus atendimentos, muitos deles agendados há meses, comércios se fecham. 

No dia 4 de julho, uma das últimas operações que ocorreram especificamente na Nova Holanda, 7.921 alunos de 22 escolas da rede municipal não realizaram as suas atividades escolares, segundo a Secretaria Municipal de Educação, e quatro espaços de saúde da região precisaram suspender as atividades, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Na pesquisa, 26,5% das pessoas entrevistadas já precisaram adiar um atendimento de saúde em decorrência de algum conflito armado.

Na Academia da Luta pela Paz, diversas atividades foram suspensas. Neste dia, 595 alunos não puderam realizar as atividades esportivas na sede, três jovens ficaram sem atendimento psicológico e 20 crianças não tiveram atividades de promoção da saúde mental. E isso impacta diretamente a saúde física e mental de crianças, adolescentes e jovens que participam das nossas atividades.

A Luta pela Paz surge nos anos 2000 como uma alternativa no território para minimizar o impacto da violência armada por meio do esporte, com o boxe e outras artes marciais, além de educação, empregabilidade, liderança juvenil e suporte social e todo esse trabalho é impactado negativamente diante da violência que assola a Maré. É necessário seguir lutando contra o sistema que coloca pessoas faveladas na linha de tiro e a atuação da organização é permitir que crianças, adolescentes e jovens mareenses tenham direito a acessar saúde física e mental.

Você também vai se interessar por…