Hoje, 28 de Outubro, é o Dia Mundial do Judô. E para comemorar esta data, conversamos com Gabrielle Almeida, a mais nova educadora esportiva da Luta pela Paz.
A jovem tem 23 anos e apesar da pouca idade, sua história com o judô já tem 20 anos! Nascida no interior do Rio de Janeiro, em Resende, há 6 anos é moradora de Bento Ribeiro. Essa mudança também se deve ao judô e é apenas uma das mudanças que o esporte trouxe em sua vida. Com a palavra, Gabrielle:
“Eu conheci o judô com três anos, em um projeto que acontecia em um bairro próximo ao meu. Inicialmente, minha mãe resolveu colocar a gente (ela e seus dois irmãos) no judô porque a minha irmã gêmea tinha muita bronquite. Ela tinha medo da gente também desenvolver uma bronquite um pouco mais séria. Então, minha mãe procurou um esporte olímpico, porque ela mesma é faixa preta de karatê. E foi assim que começou a minha história com o judô, pequenininha. Conforme foi passando o tempo, a gente foi se apaixonando pelo esporte. Fomos de projeto em projeto até chegar aqui no Rio de Janeiro, onde fomos convidadas a participar de um outro projeto. É claro que vir para o Rio de Janeiro não foi fácil, porque a gente tava na adolescência, então pra poder estabilizar a minha vida especialmente na escola, não foi fácil. Nós conseguimos uma bolsa para uma escola particular, enquanto em Resende a gente estudava em escola pública e, assim, foi muito difícil de se adaptar. A nossa sorte foi que os nossos amigos do judô que começaram com a gente continuam juntos conosco. A cidade mesmo, lá era uma cidade mais parada, com habitantes mais velhos, já aqui é uma cidade muito ativa, muita informação, correria. Mas a gente conseguiu (risos). Hoje somos três judocas, três faixa-pretas.“
Desde então, já no Rio de Janeiro, Gabrielle e seus irmãos já treinaram em Deodoro e muitos outros lugares e chegaram a ser atletas pelo Flamengo. Perguntada sobre o que mais aprendeu com o judô até hoje, Gabrielle é enfática:
“Foi a insistência. Se a gente não insistisse o tempo todo nos golpes, ou então até mesmo em aprender, eu não conseguiria insistir em tantas coisas na minha vida até hoje. E eu acho que é isso, inclusive, que me move para ser professora. Porque é o que me encanta. Poder ensinar, ajudar e poder aprender com eles também. E sem nunca deixar de competir também, né? Desde os 12 anos de idade a gente vai seguindo nas competições mais profissionais mesmo, de alto rendimento. E, desde então, eu nunca mais parei. Consegui ser campeã estadual, acho que em todas as classes, se não me engano, até hoje. Já competi muito o campeonato brasileiro, já competi… tanta coisa. E até hoje eu continuo. Claro que cada dia é uma luta para conseguir conciliar tudo, porque tem dias que não dá tempo mesmo, mas eu continuo competindo. Claro que tem dias que é uma loucura… Hoje eu treino na Ilha, então eu saio daqui correndo para ir para lá depois das aulas e depois saio tarde de lá para casa, então tem que ter muito jogo de cintura e insistir muito para poder conciliar todas as coisas. Porque além dessas coisas todas, estou agora terminando a minha segunda faculdade, de Fisioterapia (a primeira foi de Educação Física), e já está na fase de fazer estágio também. E quando acontecem os campeonatos, você acaba competindo com aquelas pessoas que conseguem se dedicar só a treinar, não só o treino físico.”
Durante esta sua jornada, além de estar sempre acompanhada de seus irmãos, a presença de sua mãe foi sempre muito constante e fundamental:
“A minha mãe sempre esteve presente em todas as competições. Tanto estaduais, quanto interestaduais e nacionais. Ela hoje já não treina mais karatê, mas está sempre presente em nossa vida. Leva a gente até o treino, busca, continua em todos os eventos de judô. Ela sempre incentivou a gente a fazer, não só o judô, mas várias coisas. Eu fiz teclado por oito anos, a gente fez natação por muito tempo também… Até que chegou um momento que começou a bater o calendário das atividades. E foi aí que nós três escolhemos o judô. Por mais que eu fosse muito boa na natação, tivesse bons resultados também, eu sempre acreditei muito que o judô era aquilo que eu gostava realmente. O judô foi o que eu sempre amei. A escolha, no final, sempre foi o judô. E poder ensinar o judô é uma paixão ainda maior. Além da gente amar o que a gente faz, tem que ter muito jogo de cintura também pra poder ensinar. Muitas crianças não gostam de perder, tem medo de cair. Mas a gente tem que persistir, ensinar a levantar. Aqui na Luta pela Paz eu já achei as crianças muito receptivas e muito interessadas em aprender de verdade o judô. Acredito que eu tenho trazido coisas novas para elas também, como um pouco da cultura japonesa mesmo, até mesmo da língua. Ensinar a contar em japonês. E é uma loucura, às veze (risos). Eles tentam falar em japonês, entender… algumas crianças são mais ansiosas e ficam: “Tia, mas eu não sei o que eu tô falando”. E você tem que acalmar (risos). “Calma, são os números, a gente vai aprender junto” e dá pra ver nos olhos de muitos deles o quanto eles estão apaixonados em aprender um pouco mais dessa cultura, para além do esporte também. O acolhimento que eu sinto aqui, como educadora, é muito grande. Diferente de outros lugares, onde muitas vezes as crianças vão as aulas por insistência dos pais, aqui, as crianças vem porque elas gostam de estar aqui. Eles gostam, querem aprender mesmo. Eles se empenham.“
Gabrielle conheceu a Luta pela Paz através de Raíssa Lima, nossa aluna e monitora da modalidade, durante campeonatos em que competiam – em categorias diferentes, o que possibilitava Gabrielle assistir às suas lutas.
“A gente foi ficando amiga até o dia que ela me disse que abriria uma vaga para trabalhar aqui. E meu sonho sempre foi trabalhar em um projeto, porque eu vim de um projeto. Então eu sei como é lidar com algumas das dificuldades que muitas das crianças e jovens daqui estão acostumados. E hoje, graças a Deus, eu estou trabalhando aqui nessa organização que é a Luta pela Paz. Hoje, já estou apaixonada por minhas alunas e alunos e me cobro muito em rever minhas aulas, pensar a matéria, procurando mais novidades para trazer para eles. Além disso, trabalhar com a Raíssa é muito bom porque a gente se ajuda muito. Eu sigo ensinando um pouco do que ela ainda não viveu no judô, né?, e ela me ajuda muito nas questões da disciplina, por ser uma pessoa que as crianças já conhecem e respeitam. Acho que sem ela, eu ficaria louca aqui. (risos)”.
Para o futuro, Gabrielle sonha em continuar sendo educadora e treinadora.
“Meu sonho é um dia ser treinadora da Seleção Brasileira. Hoje meu trabalho é majoritariamente com crianças, mas muitas delas já competem e eu gosto de falar que eu fico, às vezes, mais nervosas do que os próprios pais e mães (risos). Porque me dá vontade de entrar no tatame para ajudar a fazer algum golpe que eu vejo que por algum motivo eles não conseguem ou só pra dar aquela palavra de apoio mesmo…Estar ali presente com elas. Meu sonho também é fazer com que meus alunos e alunas da Luta pela Paz também consigam um dia competir nas categorias de Alto Rendimento, pegar nos quimonos de atletas importantes do estado, do país… Porque eu acho que isso vai agregar muito na vida deles. A mensagem que eu gostaria de deixar para eles e elas é essa: insistam. Porque se eu pudesse deixar uma mensagem para mim mesma, pra Gabrielle de 3 anos, eu diria: Insista. Insiste porque o judô é o grande amor da sua vida”