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O ringue como segunda casa, o Muay Thai como estilo de vida

Allan Neves, educador e atleta do Maré Unida, em uma exibição comunitária na Maré | Foto: Matheus de Araujo

Algumas pessoas associam as artes marciais à violência, possivelmente causada pela falta de intimidade com as  modalidades. No caso das favelas e periferias, onde a real violência se faz presente de maneira mais ostensiva, é possível entender mais facilmente que as artes marciais são esporte e, como todo o esporte, tem seus fundamentos.

. Como cria raiz da Vila do João, uma das 17 favelas do Complexo da Maré, Allan Neves entendeu desde bem jovem, aos 18 anos, que havia um caminho a trilhar dentro das artes marciais. , Buscando  uma forma de aproveitar o pouco tempo que tinha após o trabalho para se exercitar e abstrair a tensão da rotina, Allan começou a praticar  Muay Thai em um pequeno projeto dentro da Maré no ano de 2002 e nunca mais parou. “Eu treinava das 22:00 até 00:00. Não tínhamos material, apenas dois pares de luvas, mas era suficiente pra gente naquele momento”, conta Allan, hoje com 38 anos, ao refletir sobre sua trajetória.

A partir disso, a vontade de investir no esporte cresceu. Ele conta que em 2011 conheceu a Luta pela Paz (LPP), mas não pela modalidade que tanto admira. “A LPP tinha aberto um polo no Fogo Cruzado [Bento Ribeiro Dantas] e eu fui conhecer. Na época, tinha apenas Boxe e Luta Livre, daí comecei a treinar a Luta Livre mesmo, para não ficar parado. Lembro que eles sempre passavam um questionário perguntando se os alunos queriam outra modalidade na instituição e claro que eu perturbava sempre para ter o Muay Thai”, relembra o atleta, que ajudou na implementação da modalidade nos anos seguintes. 

Allan entrega o certificado de graduação para Paulo Roberto, atleta e aluno | Foto: Matheus de Araujo

A paixão pelo esporte o fez não só praticar, como também estudar movimentos, regras e fundamentos, entendendo cada vez mais que, além da luta, existe uma importante relação social e filosófica desenvolvida nos treinos. Hoje, como educador esportivo do projeto Maré Unida , Allan aponta a importância de transmitir a paixão e o conhecimento para jovens com origens próximas à sua. “Trabalhar no projeto Maré Unida é saber que estamos ali pelos nossos jovens e que vamos fazer o melhor por eles. Isso é o que me motiva e me impulsiona. O Muay Thai é um estilo de vida, não apenas porrada, igual muitas pessoas falam”.

 Como educador esportivo do Maré Unida, projeto realizado pela Luta pela Paz com patrocínio da Petrobras, ele demonstra um lado afetivo fundamental para a construção de um ambiente coletivo saudável entre ele e os jovens. “Me marca poder ser confidente da turma como um pai, um amigo ou um irmão. Eles sempre estão à vontade para conversar comigo. Me marca muito saber que ali não é apenas um espaço de treino, mas uma segunda casa, e mesmo que não estejam bem para treinar, eles se fazem presentes, conversando e observando para ajudar e serem ajudados”, diz o educador, com orgulho.

O educador esportivo no meio de alunos, alunas, colegas e amigos | Foto: Matheus de Araujo

Allan detém diversas conquistas pessoais, mas conta que um dos seus maiores sonhos é conseguir um patrocínio que o leve até o berço do esporte, a Tailândia, para buscar o conhecimento diretamente na fonte. O educador entende  que mesmo com tanto tempo de dedicação à modalidade e aos jovens, seguir estudando e se aprimorando é fundamental.Allan Neves é uma pedra lapidada com muito afeto e visão de futuro, e sua dedicação  continuará servindo de inspiração para mais e mais jovens atendidos pelo projeto Maré Unida.

Matéria escrita por Matheus de Araújo

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